“A casa”, um surpreendente poema de Mia Couto
Eis um poema de Mia Couto que demonstra que a alma feminina, de fato, lhe é transparente.
Seria uma alegria se o leitor deixasse, nos comentários, a sua pessoal interpretação do poema.
A CASA
Confesso:
Quando a olhei
eu apenas queria,
em sua boca,
a água onde começa a vida.
E fui num murmúrio:
preciso do teu fogo
para não morrer.
Ela, então,
sussurrou o convite:
vem a minha casa.
No caminho,
porém,
recusou meu braço,
esfriou o meu alento.
E corrigiu-me assim o intento:
não te quero corpo,
nem quero o fogo do leito,
nem o frio do adeus.
Suave murmurou:
levo-te,
homem,
a minha casa
para aprenderes a ser mulher.
Que nenhum outro fim
a casa tem.
Mia Couto
No livro “Vagas e Lumes”, da Editorial Caminho.